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História ambiental em rede: novos temas e abordagens

Org: Eunice Sueli Nodari, Samira Peruchi Moretto, Débora Nunes de Sá, João Davi Minuzzi.


O presente livro representa um legado social intangível, o que nos desperta para os argumentos do economista e sociólogo mexicano Enrique Leff acerca da complexidade, amplitude e diversidade do saber ambiental – fundado na indissociável relação entre sociedade e natureza. Isso porque, cada vez mais a relação entre os humanos e o mundo natural se expande em abordagens que desafiam o exercício histórico. E a dilatação dos conteúdos, abordagens e engajamentos entre as esferas do saber e o campo ambiental são cada vez mais dinâmicos e entrelaçados.

Paisagens caboclas: agricultura e criação de animais no oeste de Santa Catarina

Samira Peruchi Moretto: samira.moretto@uffs.edu.br

Marlon Brandt:  marlon.brandt@uffs.edu.br


Introdução: O presente texto1 objetiva discutir de que modo as práticas de uso e acesso à terra pela população cabocla do oeste de Santa Catarina modelaram a paisagem dos espaços rurais dominados pela floresta – até a primeira metade do século XIX. Verifica-se nesses espaços a existência de uma rede complexa de elementos naturais e humanos em atividades que combinavam o uso privado e coletivo das áreas de floresta, ligadas à criação de animais soltos, à extração da erva-mate (Ilex paraguariensis) e à agricultura, formando o que pode ser definido como “paisagem cabocla”.


 

História Ambiental: configurações do humano e tessituras teórico-metodológicas | Ilsyane do Rocio Kmitta, Suzana Arakaki e Tânia Regina Zimmermann

Michely Cristina Ribeiro: michelyribeiro@hotmail.com


A obra História ambiental: configurações do humano e tessituras teórico-metodológicas, organizada pelas historiadoras Ilsyane do Rocio Kmitta, Suzana Arakaki, Tania Regina Zimmermann, professoras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, foi publicada em 2020, pela editora Milfontes. Os oito capítulos que compõem o livro são escritos por pesquisadores de diferentes regiões do país, o que, como mencionado por Susana Cesco na apresentação da obra, indica para a descentralização das pesquisas em história ambiental, que vem se fortalecendo no Brasil. Considerando os capítulos em conjunto, permitem ao leitor que conheça importantes aspectos da área de pesquisa, bem como levantam reflexões a respeito do seu papel tanto no ensino básico quanto no superior.


 

AMPLIANDO FRONTEIRAS: VIAJANTES E AS FLORESTAS CATARINENSES NO SÉCULO XIX

Samira Peruchi Moretto: samira.moretto@uffs.edu.br


Introdução: O estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, passou por um processo de demarcação bastante tardio comparado com os outros estados da mesma região. As demarcações geopolíticas se estabeleceram, tais quais as conhecemos atualmente, somente próximo ao segundo quartel do século XX. Um dos fatores que impediu a ocupação e a pretensa demarcação territorial foi a presença de uma densa floresta. O objetivo deste capítulo é descrever a floresta para analisar as transposições das áreas demarcadas do estado de Santa Catarina, no século XIX, por meio das incursões de viajantes naturalistas.


 

Meio ambiente e sociedade: as transformações na paisagem do Oeste Catarinense, na segunda metade do século XX

Samira Peruchi Moretto: samira.moretto@uffs.edu.br


Resumo: O Oeste de Santa Catarina passou por diversas transformações ambientais, em sua maioria provocados pela antropização da paisagem. O desmatamento foi intensificado na primeira metade do século XX, após o processo de ocupação da região e em função das atividades madeireiras. Com o desmatamento houve uma redução do volume madeirável, possibilitando a intensificação de outras atividades econômicas, como agropecuária e monocultura de árvores exóticas. Estas atividades, alteraram significativamente os grupos sociais que viviam na região. O objetivo deste artigo é analisar o processo histórico da transformação ambiental no Oeste catarinense, após o processo de ocupação da região. Para atingir os objetivos propostos utilizaremos como fontes: relatórios de governo, censos demográficos, relatórios das companhias colonizadoras, os periódicos regionais e estaduais e a legislação federal. Na década de 1960 foi criado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e promulgado o Código Florestal em 1965, que atuaram de forma intensa na região. Somente com a promulgação da Constituição Federal de 1988 é que a Mata Atlântica passa a ser considerada patrimônio nacional, havendo, de certa maneira, maior controle nas ações sobre o meio ambiente.

Palavras-chave: Desmatamento, História Ambiental, Oeste de Santa Catarina


 

Na fronteira do Cerrado: as transformações ambientais no norte de Goiás

Samira Peruchi Moretto: samira.moretto@uffs.edu.br


Resumo: O povoamento do norte do Estado de Goiás foi intensificado devido a descoberta de ouro na região. Após longa fase populacional estacionária, a construção da rodovia BR – 153, em 1958, trouxe forte impacto para região norte do estado, como o aumento populacional e intensificação das atividades agropecuárias. O presente artigo faz parte do projeto de pesquisa A transformação da paisagem no norte de Goiás: desafios contemporâneos e pretende analisar o processo de transformação da paisagem do norte de Goiás, na segunda metade do século XX. A pesquisa se justifica pelo fato de que no norte de Goiás as fitofisionomias naturais foram e estão passíveis a modificações devido a presença de espécies exóticas, introduzidas como forrageiras para alimentação bovina e/ou como gêneros agricultáveis. Estas transformações ambientais acarretaram danos irreversíveis ao Bioma da região, o Cerrado, caracterizado pela constante ameaça à sua biodiversidade.

Palavras-chave: História Ambiental, Cerrado e Transformação da Paisagem


 

O (re)florestamento e os incentivos para introdução da monocultura de Pinus spp no planalto de Santa Catarina, Brasil

Samira Peruchi Moretto: samira.moretto@uffs.edu.br


Resumo: O Estado de Santa Catarina apresentou um histórico de intensa devastação ao longo do século XX. Mesmo durante o processo de desmatamento que ocorreu no Estado, entre as décadas de 1920 e 1970, já era previsto que o mesmo poderia se tornar algo imensurável e acarretaria perdas irrecuperáveis ao meio ambiente. Por este fato, o governo federal, juntamente com o governo estadual, criou decretos e outras legislações que asseguravam o reflorestamento no Estado, para manutenção da flora. No entanto, durante várias décadas, as principais preocupações por parte do governo do Estado de Santa Catarina, com relação à floresta, se limitavam a questões em prol da continuidade da ascensão econômica gerada pelo setor madeireiro. Neste momento crescia o reflorestamento com espécies exóticas como Pinus ssp e o Eucalyptus, que ameaçam o ecossistema. O plantio de espécies exóticas não era restrito e nem discriminado no Código Florestal de 1965, e os interessados no plantio podiam até receber incentivos fiscais para seu plantio. O objetivo deste artigo é analisar a legislação brasileira no que tange ao reflorestamento e os incentivos a introdução de espécies madeiráveis exóticas, no planalto catarinense durante o século XX.

Palavras-chave: História Ambiental, Pinus spp, Reflorestamento, Santa Catarina, Brasil.


 

Manutenção versus Conservação: a criação do Parque Florestal em Chapecó

Samira Peruchi Moretto: samira.moretto@uffs.edu.br

Michely Ribeiro: michelycribeiro@gmail.com


Resumo: A partir do século XX, a região oeste do estado de Santa Catarina vivenciou um período de maior interferência humana na configuração do meio ambiente. O presente estudo tem como objetivo analisar os processos de transformações ambientais que levaram à criação do Parque Florestal João Goulart, na década de 1960, em Chapecó. Partindo da abordagem proposta pela História Ambiental, utilizase como fontes periódicos regionais e outros documentos relativos ao processo de criação do Parque Florestal. Na região, o setor madeireiro teve grande destaque econômico desde o início da colonização, porém o crescimento do desmatamento ocorreu paralelo às grandes acelerações. Além disso, outro fator responsável por intensificar o desmatamento foi a abertura de novas áreas para os cultivos agrícolas e a criação de animais. A preocupação levantada pelos desmatamentos levou à implementação de medidas institucionais, como a criação de Parques Florestais no Brasil. Entretanto, a atuação dos parques esteve ligada principalmente à manutenção de atividades econômicas em detrimento a conservação.

Palavras-chave: Espaço urbano. Formação histórico-geográfica. Desigualdades socioespaciais. Áreas residenciais. Condições de vida.


 

¿Cuáles son los desafíos agrícolas y ambientales en el proceso de introducción de las especies para los monocultivos en Brasil?

Samira Peruchi Moretto: samira.moretto@uffs.edu.br


Resumo: Os objetivos de minhas pesquisas, desenvolvidas na última década, foram analisar o processo de ocupação e de transformação do meio natural das áreas onde se encontram as fitofisionomias da Floresta Ombrófila Mista e Floresta Ombrófila Densa, dentro do Bioma da Mata Atlântica, através do viés da História Ambiental. Fatores, alguns que serão pontuados aqui, foram identificados como propulsores da ocupação e da transformação do meio natural, assim como nas relações rurais. É importante destacar que não ocorreram de forma isolada ou especificamente dentro do bioma da Mata Atlântica, tais alterações transpassaram as fronteiras geopolíticas e naturais. A partir desta análise percebeu-se que o desmatamento e a introdução, domesticação e aclimatação de espécies vegetais tem íntima relação com as drásticas alterações ambientais ocorridas especialmente no século XX. Alguns agentes contribuíram para tais alterações, como o desmatamento e a inserção de espécies exóticas, para a prática da monocultura – seguindo o paradigma da agricultura contemporânea.


 

O desmatamento e re/florestamento no Oeste de Santa Catarina nas décadas de 1960 e 1970

Samira Peruchi Moretto: samira.moretto@uffs.edu.br


Resumo: O Estado de Santa Catarina passou por diversas transformações ambientais, em sua maioria, provocadas pela antropização da paisagem. O desmatamento foi intensificado a partir da primeira metade do século XX, após o processo de ocupação da região e em função das atividades madeireiras. O objetivo desde artigo foi analisar algumas práticas de desmatamento e de reflorestamento, no Oeste de Santa Catarina, nas décadas de 1960 e 1970. Nos anos de 1950 e 1960 ocorreu o auge das atividades madeireiras no estado. Nos governos dos presidentes da ditadura civil militar foram aprovados via governos estadual e federal, projetos desenvolvimentistas, de cunho imediatistas, que acarretaram em grandes perdas ambientais. Na década seguinte, foram introduzidas práticas de reflorestamento, porém caracterizadas por serem realizadas através de monocultura de espécies florestais, por não estarem alinhadas às medidas de recomposição da flora original. Para atingir o objetivo proposto, as fontes utilizadas são: mapas, relatórios de governo, censos demográficos, os periódicos regionais e estaduais, iconografia, e a legislação federal. Visa-se, portanto, entender como ocorreu o processo de transformação da paisagem, e as medidas para conservação ou não dos ecossistemas envolvidos.

Palavras-chave: História Ambiental. Oeste Catarinense. Desmatamento. Reflorestamento.


 

“Árvore é quase bicho, e bicho é quase gente”: os caboclos da América Subtropical e um Buen Vivir alternativo

Claiton Marcio da Silva: claiton@uffs.edu.br

 Delmir José Valentini: valentini@uffs.edu.br

 Samira Peruchi Moretto: samira.moretto@uffs.edu.br


Resumo: Este artigo tem por objetivo explorar uma possível aproximação entre o conceito de Buen Vivir e o modo de vida dos caboclos sul-brasileiros. Discutimos, então, como o conceito de Buen Vivir, da forma como foi concebido por intelectuais e movimentos sociais notadamente andinos, de forma mais generalista, poderia ser aplicado aos demais grupos sociais latinoamericanos muitas vezes classificados simplesmente a partir do termo populações tradicionais. Em uma análise de movimentos intelectuais como o Buen Vivir e o pós-desenvolvimentismo latinoamericano, os estudos subalternos sul-asiáticos e a abordagem sócio-antropológica brasileira dos oprimidos, é possível encontrar confluências em torno de preocupações de pesquisa e ação sobre/para populações historicamente marginalizadas, como povos indígenas, sertanejos, pescadores artesanais ou caboclos. No entanto, existem diferenças entre a condição destes grupos que, a nosso ver, não possibilitam uma simples aplicação de conceitos como Buen Vivir aos caboclos em função, principalmente, de uma intensa política de marginalização ou integração nacional que não lhes permitiu – diferente de alguns grupos quilombolas ou povos indígenas - o reconhecimento do território. Muitos dos caboclos no Oeste de Santa Catarina, não possuem acesso às terras, o que não lhes permite uma reprodução/reinvenção social de seu modo de vida, assim como não tiveram possibilidades de manutenção de sua maneira de se relacionar com o meio ambiente; diferente do que ocorreu no estado do Paraná, onde ainda existem terras comunais destinadas a estes grupos, chamados de faxinais. Por fim, questionamos uma possível “universalidade da diferença” que conceitos como Buen Vivir podem trazer em uma aplicação generalista, embora possamos considerar que uma ética do “bem viver alternativo” possa ser encontrada entre grupos caboclos, que tiveram maneiras próprias de se relacionar com o meio natura e, atualmente, mesmo integrados à sociedade urbana e nacional. A metodologia utilizada para este artigo foi a pesquisa bibliográfica relacionada à questão teórica e histórica dos caboclos, assim como o uso de fontes primárias, que agrupam livros clássicos e material de imprensa, além de uma etnografia sobre a atualidade destes grupos.

Palavras-Chave: Caboclos; Buen Vivir; Oeste Catarinense (Brasil); Meio Ambiente.


 

Bipolitics and the Anthropocene Era: Ideas of nature in Henry David Thoreau's Walden.

Claiton Marcio da Silva: claiton@uffs.edu.br

Leandro Moreira da Cruz: leandro.cruz@estudante.uffs.edu.br 


ABSTRACT: This article discusses Thoreau’s Walden; or, Life in the Wood (1854) as an interpretative key to rethink contemporary relations between humans and nonhumans in ecological systems. While Thoreau’s Civil Disobedience came to be seen as his main political work sensu stricto, Walden’s socio-environmental criticisms has commonly been regarded as outside the scope of his political commitment. As this essay demonstrates, Thoreau’s social critique focused not solely on human life, but it widely encompassed the relevance of nonhuman beings, such as plants and animals or the pond’s ecosystem as a whole. Yet, how can such a critical discussion be adopted in order to reflect on the relations between humans and nonhumans in the current Anthropocene era? Informed by the critical tools of the environmental humanities and ecocriticism, we seek to expand Foucault’s concept of biopower to nonhuman beings through a critical reading of Thoreau’s Walden, what we consider as a cutting-edge attempt to present a less anthropocentric idea of ecological systems.

Keywords: Thoreau. Walden. Biopolitics. Biopower. Antropocene.


 

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